Evento no Museu Magüta reuniu indígenas, pesquisadores e público para discutir os impactos da religiosidade nas tradições Ticuna
BENJAMIN CONSTANT (AM) – Na tarde da última quarta-feira, 6 de agosto de 2025, o Museu Magüta foi palco da mostra do webdocumentário que retrata as transformações culturais vividas pelo povo Ticuna, com foco na comunidade indígena de Filadélfia. A exibição, aberta ao público, reuniu lideranças, moradores, pesquisadores e jovens indígenas em um momento de reflexão sobre fé, identidade e resistência.
A produção audiovisual trouxe relatos de moradores da comunidade, lideranças Ticuna, estudiosos e jovens, revelando os impactos causados pela chegada das igrejas evangélicas à região. O documentário abordou temas sensíveis, como as mudanças nos rituais de passagem, o abandono da medicina tradicional e o enfraquecimento da língua nativa.
Para a proponente do projeto, a jornalista Emilli Marolix, a proposta foi dar voz à própria comunidade para que as transformações fossem compreendidas a partir de dentro.
“Não queríamos apenas mostrar as mudanças, mas abrir espaço para que os Ticuna contassem o que vivem, sentem e pensam sobre essas transformações. O audiovisual é uma ferramenta poderosa para isso”, afirmou Emilli.
Ela também destacou o valor do registro como instrumento de memória coletiva.
“Esses relatos são preciosos. São histórias que, muitas vezes, não chegam aos livros nem às telas. Registrar essas vivências é uma forma de resistência e de valorização da sabedoria dos povos indígenas”, completou.
A escolha do Museu Magüta, espaço dedicado à salvaguarda da memória Ticuna, reforçou o compromisso da iniciativa com o protagonismo indígena. O local, referência cultural na região do Alto Solimões, acolheu o evento como parte de seu esforço contínuo para fortalecer as narrativas dos povos originários.
A mostra atraiu também o olhar atento da juventude. A estudante do ensino médio e moradora da comunidade de Filadélfia, Sandra Aiambo, de 16 anos, assistiu ao documentário pela primeira vez e refletiu sobre a importância de preservar as raízes culturais em meio às mudanças.
“A gente precisa valorizar mais a nossa cultura. Muita coisa mudou com a religião, mas a língua, os rituais, os conhecimentos dos nossos antigos não podem desaparecer. O documentário me fez entender que é possível conviver com as mudanças sem esquecer quem somos”, disse o jovem.
Durante o evento, artesãs da região também expuseram seus trabalhos, fortalecendo o vínculo entre cultura material e memória coletiva.
Maria Zeli Flores, artesã Ticuna que participou da mostra, destacou a importância do documentário para a valorização das raízes do povo e celebrou a oportunidade de comercializar seus produtos no espaço.
“A gente se emociona vendo nossa história na tela. Esse documentário ajuda os mais jovens a entender de onde vêm e por que não podemos deixar nossas tradições sumirem. É bonito e necessário ver isso sendo mostrado com respeito. E vender meus artesanatos aqui também foi muito bom, porque cada peça carrega um pouco da nossa cultura. As pessoas que compram levam um pedaço da nossa história com elas”, afirmou Maria Zeli.
Financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo, o projeto busca valorizar as produções culturais que partem das comunidades e oferecem uma visão interna sobre os processos de mudança. Para os organizadores, mais do que um registro audiovisual, a obra representa uma ferramenta de conscientização, pertencimento e resistência.